quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O mar agitado de oportunidades

Saiba como fazem os investidores que pescam no mar incerto das fusões e aquisições os negócios bilionários que movimentam fortunas e agitam as cotações na bolsa
 
As fusões e aquisições vêm batendo sucessivos recordes no Brasil em 2010 e muitas dessas transações envolvem companhias listadas em bolsa. Operações como as aquisições da Tivit pela Apax Partners e da TAM pela LanChile, além da fusão da Brasil Ecodiesel com a Maeda Agroindustrial, foram algumas das 94 negociações deste ano.
 
Esses negócios movimentam milhões e geram honorários polpudos para advogados e banqueiros de investimento. No entanto, mesmo quem não participa diretamente dessas transações bilionárias acompanha com olhos de lince as candidatas a ser compradas. São os investidores que procuram, por meio de tacadas certeiras, lucrar com as fortes oscilações desses papéis provocadas pela mudança de controle acionário.
 
 
 
As fusões e aquisições tendem a se manter aquecidas em 2011.
O investidor que quiser aproveitar essa onda deve se antecipar.
 
Um bom exemplo é o do administrador de empresas carioca Cláudio Fonseca. Atento observador do mercado, ele percebeu, em maio, que a Brasil Ecodiesel poderia ser comprada ou participar de uma fusão e investiu uma quantia razoável na companhia. “A empresa tinha dificuldades operacionais e as ações estavam muito baratas”, diz ele.
 
Três meses mais tarde, quando a alta acumulada era de 20%, Fonseca vendeu metade de sua posição. No dia 25 de outubro, a Brasil Ecodiesel anunciou uma fusão com a Maeda. Os papéis haviam subido mais 15% dias antes de a notícia ser divulgada. “Acredito que a ação vai subir mais”, diz Fonseca.
 
Os números vistosos não são uma exceção. Quem comprou ações da TAM um mês antes de sua aquisição pela LanChile e vendeu os papéis no dia do anúncio lucrou 30,7% (observe o quadro abaixo). Não fique triste se você não surfou no mar das aquisições em 2010.
 
De acordo com os especialistas, essas águas continuarão agitadas em 2011. “Construção civil, seguros e bancos médios são setores que estão em pleno processo de consolidação”, diz Rossano Oltramari, analista-chefe da XP Investimentos. “Muitos negócios ainda vão ser fechados”, diz ele.
 
O investidor com visão de mercado poderá ganhar muito dinheiro. Foi o caso do analista de sistemas Daniel Augusto, que ganhou com a venda da empresa de tecnologia Tivit em maio para o fundo de private equity americano Apax Partners.
 
Cláudio Fonseca: o investidor lucrou 20% com ações da Brasil Ecodiesel, com a expectativa de venda da companhia. O negócio foi concretizado em outubro.
 
“A ação subiu com os rumores de que a companhia seria vendida”, diz o carioca, que lucrou 20%. Augusto toma suas decisões de investimento com base na análise técnica. Ao perceber um aumento no volume de negócios, ele resolveu lançar a rede.
 
Como lucrar com as fusões? Mesmo se não ganhar antecipando o fechamento de uma fusão ou aquisição, o investidor pode aproveitar a provável alta posterior das ações. “Uma aquisição só fará sentido se agregar valor, se a soma de um mais um for igual a três”, diz Luís Fernando Pessoa, consultor de investimentos e sócio da Local Invest. As empresas que se fundem ou que compram concorrentes devem apresentar números melhores no médio prazo, que vão sustentar uma alta dos papéis.
 
Se sua intenção for ganhar antes do negócio, é preciso tomar alguns cuidados. Essas operações são tratadas como segredo pelos envolvidos. Mesmo assim, os fóruns de investidores pipocam com dezenas de rumores todos os dias. Boa parte não tem fundamento e mesmo os boatos fundados não são garantia de que o negócio vai sair.
 
Assim, procure sempre confirmar seus palpites com uma corretora ou com um consultor de investimentos. “Quando a motivação é só a especulação, a aplicação deixa de ser um investimento e transforma-se em uma aposta”, diz Pessoa.
 
Quem não tem tempo para acompanhar o mercado pode investir em fundos dedicados a isso, os chamados fundos de operações de eventos. Nem sempre uma aquisição é garantia de lucro. A compra da construtora Agra pela concorrente Cyrela, anunciada em junho de 2008, foi desfeita quatro meses depois.
 
Nesse meio tempo, as ações da Cyrela recuaram 20,4% e os fundos perderam muito dinheiro. Daí a importância de buscar ajuda profissional. “É preciso avaliar itens como o preço pago no negócio, a que múltiplos a nova empresa passará a ser negociada e a relação de troca de ações”, afirma Oltramari, da XP Investimentos. “Sem fazer essa análise, é melhor não arriscar.”
 
 
O jogo das aquisições

 
Os maiores lucros das empresas negociadas em bolsa:
  • VIVO – Em maio de 2010, a Telefônica fez a primeira oferta pelas ações da Vivo. O preço foi subindo até 8,3 bilhões de euros em 28 de julho. Nesse período, como as ações tinham 80% de tag along, os preços das ações ordinárias subiram 92%
  • BRASIL ECODIESEL – Em julho de 2010, as ações vinham amargando um período sem grandes emoções. Foi quando começaram os rumores de que a empresa seria negociada. Em outubro foi anunciada a fusão com a Maeda e os papéis subiram 56%
  • TIVIT – Lançadas em bolsa em setembro de 2009, as ações da empresa nunca animaram os investidores até o início de 2010, quando começaram as expectativas de alta. Quem comprou viu as ações subirem 42,8% na aquisição. A alta continuou, devagar, até novembro. A empresa deve fechar seu capital no dia 20 de dezembro
  • TELEMAR – Quando a Telefônica demonstrou interesse pela participação no capital da Vivo, as ações da Telemar também subiram. A alta foi de 31,25%. No entanto, após a conclusão da operação, os investidores não se animaram com as erspectivas do negócio e as cotações retrocederam 21% poucos dias após o anúncio
  • TAM – As notícias da aquisição da TAM pela LanChile surpreenderam o mercado. As ações preferenciais subiram 71,6% no dia da fusão e continuaram avançando nos dias que se seguiram.

Por Juliana Schincariol

ISTOÉ DINHEIRO
INVESTIDORES
Nº edição: 686 / Bolsa / 26.NOV - 21:34 / Atualizado em 05.12 - 22:10

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